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08 abril 2011

Diagnostico em GT com crianças: a compreensão da TOTALIDADE


Ao pensarmos em diagnóstico, geralmente nos reportamos a uma perspectiva tradicional na Psicologia Clínica, que envolve determinados procedimentos pré-estabelecidos, que são realizados em uma determinada ordem, num determinado número de sessões, com o objetivo de localizar o que a criança apresenta dentro de categorias específicas, de estabelecer objetivos terapêuticos, de escolher  técnicas para alcança-los, além de  emitir expectativas prognósticas.
Dentro de uma perspectiva de homem gestáltica, tal concepção de diagnóstico torna-se absolutamente incompatível uma vez que, por exemplo, se entendemos que  o homem é um constante vir a ser, como encaixa-lo em uma categoria fixa, que afirma que ele é isso ou é aquilo?
Além disso, se afinados com a fenomenologia, privilegiamos a sabedoria do cliente e a sua atribuição de significado as suas próprias questões, como um psicoterapeuta, após observa-lo e testa-lo vai enunciar aquilo que ele é e o significado de suas questões e dificuldades?
Ou ainda, se acreditamos que o homem é um ser de potencialidades e tem a liberdade de escolher a cada momento o caminho a seguir, como traçar um plano terapêutico para esse cliente?
E se priorizamos a singularidade humana, como supor que todos os seres humanos são passíveis de serem encaixados em um determinado número de categorias psicopatológicas?
E mais: se compreendemos o ser humano como sempre fazendo parte de um campo, como estabelecer causas únicas para seus padrões relacionais disfuncionais?
Tal incompatibilidade entre os pressupostos do Psicodiagnóstico clássico e a concepção de ser humano da Gestalt-Terapia gerou durante muito tempo uma completa aversão de seus representantes a qualquer possibilidade de realização de um diagnóstico, percebido como uma tentativa de classificação do ser humano, julgamento de suas escolhas e aprisionamento de suas possibilidades criativas de estar no mundo.
No entanto, ao longo dos últimos anos, com o resgate de seus pressupostos filosóficos e uma maior articulação dos mesmos com a prática clínica, paralelamente a uma avaliação e revisão da forma como tal prática vinha sendo realizada e particularmente das dificuldades encontradas e dos “resultados” obtidos, a questão da necessidade de se realizar um diagnóstico começou a ser discutida.
Nesse sentido, começamos a perceber que apesar do homem ser um constante vir a ser, quando ele vem a psicoterapia é exatamente porque se encontra impedido nesse fluir e cristalizado em alguns padrões que não estão sendo experimentados como satisfatórios.
Percebemos também que sua sabedoria organísmica encontra-se prejudicada, pois ele possui pouca noção de suas necessidades e do significado de suas questões.
Que ele vem a psicoterapia buscar ajuda do psicoterapeuta exatamente porque não consegue dar sentido, continuidade e direção ao seu projeto de vida, escolhendo sozinho seus caminhos  e se responsabilizando por suas escolhas.
E que, ainda que ele se apresente de forma única, também traz características e comportamentos semelhantes a de outros clientes, apontando para algumas regularidades, para algo compartilhado com outros seres humanos nessas configurações.
E que apesar de não apontarmos uma causa única para seus problemas e dificuldades, geralmente é isso que o cliente faz, aprisionando suas possibilidades presentes em determinados fatos ou pessoas.
Começamos a perceber que, apesar dos pressupostos do diagnóstico clássico não nos servir, isso não nos eximia da necessidade de realizar um diagnóstico que nos permitisse compreender a experiência do cliente, suas formas de se relacionar consigo mesmo e com o mundo, suas necessidades e, particularmente, suas formas de se impedir de alcançar uma vida plena e satisfatória.
Assim, começamos a refletir sobre a necessidade de se realizar um diagnóstico que não fosse definitivo, pois concebemos o homem em processo constante; que não fosse marcado pela causalidade, pois não percebemos o comportamento humano com resultado de um mecanismo de causa e efeito mas de processos circulares de retroalimentação e de relações estabelecidas entre inúmeros elementos  no campo; que permitisse identificar os elementos do campo possivelmente envolvidos na situação de forma  que psicoterapeuta e cliente tenham mais opções de compreensão e atuação para a construção de novas formas de relação com o mundo;  que não fosse hierarquicamente estabelecido, pois acreditamos em um homem que pode nos dizer a respeito dele e valorizamos a descrição da sua experiência; e que não reduzisse o homem as características compartilhadas com outros seres humanos, pois ele é uma totalidade que vai além das  comunalidades em uma configuração total que é sempre única.
Caminhando nesse sentido, atualmente, podemos falar de uma perspectiva gestáltica de diagnóstico a qual denominamos de compreensão diagnóstica, totalmente afinada com a concepção de ser humano em Gestalt-Terapia, que privilegia a observação, a descrição da experiência singular do cliente, as relações entre os diversos elementos do campo do qual esse cliente faz parte e o fluxo das experiências humanas que se constituem como um processo ininterrupto e infinito.
Assim, antes de "etiquetarmos" as crianças a partir de meia duzia de caracteristicas que compoe uma categoria psicopatologica classica, olhamos para TODAS as suas caracteristicas e para todas as forças envolvidas na situação e, principalmente, para a forma em que estão articuladas, formando uma totalidade chamada CRIANÇA e que, antes de tudo, precisa ser compreendida e acompanhada a partir de suas necessidades especificas.
Segue abaixo, video já postado em nossa pagina no Facebook, mas que vale a pena ser visto e revisto!!


Um comentário:

  1. Olá Luciana!

    Que ferramentas você considera mais adequadas para um gestalt terapeuta realizar esse tipo humano de diagnostico (tanto em crianças, quanto em adultos)? Estará me ajudando muito ao responder minha pergunta.

    Obrigada por compartilhar!

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